quinta-feira, novembro 27, 2003

O mocinho se dá mal
Ninguém discorda que a abertura de mercado destrói setores pouco competitivos. A discussão se restringe a quantos e quais segmentos vão desaparecer. Uma boa dica é que serão aqueles que empregam mais. Afinal, empresa competitiva é aquela que consegue fazer muito com pouca gente, de preferência com tecnologia farta. Na fase de preparação para entrar na Alca, as empresas brasileiras vão ter que se tornar mais ágeis, investindo em tecnologia e diminuindo “custos”, entre eles os funcionários. Alguns setores vão se dar bem, mas dificilmente vão absorver a mão-de-obra dos que vão perder. Ou por não precisar ou por não haver gente qualificada disponível. Isso quer dizer que é melhor ficar de fora? Ficar fechado enquanto o resto do mundo aumenta na marra a produtividade? O fim desse filme é conhecido. E a impressão que dá é que em qualquer dos finais possíveis o mocinho acaba se dando mal.

quarta-feira, novembro 26, 2003

O governo planeja
Há vida inteligente no governo. O MDIC acaba de anunciar as diretrizes de política industrial do País e elas são poucas (o que ainda pode provocar muita choradeira). Quatro: fármacos, bens de capital, software e microeletrônica. Esta última é vista com muito ceticismo por este que vos escreve. Já recebemos nãos sonoros de vários fabricantes e pra tornar viável essa indústria no Brasil seria necessário muita grana do BNDES. Mas muita mesmo, uns US$ 2 bilhões pra começar. Do meu ponto de vista estreito e setorial, o software é uma grande aposta. O desafio vai ser articular essa imensa massa de pequenas empresas produtoras - mais de 5 mil hoje - pra que se tornem capazes de exportar e brigar pelo mercado mundial. E por mais que seja lindo imaginar um monte de empresas ágeis produzindo sistemas de qualidade, faz muita falta ainda uma IBM ou Microsoft verde e amarela. Quem tem calibre pra brigar por esse posto por aqui?

terça-feira, novembro 25, 2003

Mutação econômica
Curioso isso, a economia muda bem debaixo dos nossos narizes. Percebemos anos depois. Pegue o caso americano. Sempre acharam o Wal-Mart o máximo, preço baixo todo dia, aquele papo. Na prática, desde o passamento de Sam Walton, passaram preferencialmente a importar produtos de países com baixíssimos custos. Cerca de 10% do que a China vende para os EUA passa por eles. Sem que se percebesse, há anos a família Walton mata vários setores da indústria americana (sem juízo de valor aqui, hein? Deixo isso para as últimas edições da Business Week e Fast Company ). Com inflação controlada, foi possível manter os juros achatados na tentativa de Greenspan em recuperar o ritmo de crescimento. Enquanto isso, o faturamento de alguns setores só sobe. Tecnologia é apenas um exemplo. Ora, se alguns são destruídos e outros não param de crescer, há uma transferência sendo feita. Repare, isso também está acontecendo no Brasil em outros setores (e, infelizmente, sem taxas tão módicas).

segunda-feira, novembro 24, 2003

My name is...
O dilema cultural do século será o idioma. Ninguém tem dúvida que falar, pensar e escrever em inglês é fundamental para qualquer um que não viva em uma caverna. É a língua da Internet, da globalização, da informação que trafega solta pelo mundo. É necessário para quem busca sucesso em todas as áreas do conhecimento humano. Mas se expressar é parte do raciocínio humano, sem entrar na polêmica de manter a cultura de um povo. É por aí que vão as críticas sobre quem adota o inglês para qualquer situação. Aquele papo de vamos fazer um benchmarking, depois um business plan, para logo depois te dar um follow-up. Parece ridículo. E quem cria nomes estrangeiros para empresas, serviços ou produtos? Também. Mas será que estes podem estar mais preparados para o mercado global? Se todos querem exportar, é melhor uma marca única para os mercados externos e internos. Se esse ponto de vista faz sentido, então processos locais na língua gringa também podem ser defensáveis. Not so easy, hum?

quinta-feira, novembro 20, 2003

Carr que me perdoe, mas tecnologia é fundamental
Como toda personalidade em busca de polêmica, o editor da Harvard Business Review, Nicholas Carr, fez barulho este ano. Causou frisson ao afirmar que tecnologia não importa. No momento certo. Depois da bolha da Internet, é fácil encontrar ouvidos dispostos a ouvir uma boa crítica ao uso de software e hardware nas empresas. Mas é preciso dizer que Carr foi simplista. Se ele tivesse afirmado apenas que recursos como capacidade de processamento ou armazenamento de dados vão se transformar em “utilities” como água ou energia elétrica, seria fácil concordar com ele. Mas ele disparou sua tese em direção a toda a tecnologia da informação. “Não é estratégico”, disse. É difícil acreditar. Sempre vão haver novas tecnologias que, se bem usadas e adotadas antes do que a concorrência, vão dar a empresa um diferencial competitivo. Produtividade, agilidade e boa gestão podem ser reforçadas pelo bom uso de produtos inovadores. Quando a empresa do lado imitar o movimento, o executivo de visão já vai estar dois passos adiante. Dêem o nome que quiserem a esse profissional, CIO, CKM ou CTO. Ele vai estar atento as novas possibilidades, preocupado e investindo. E jamais será comparado a um gestor de recursos que podem ser ligados ou desligados com o apertar de um interruptor.

quarta-feira, novembro 19, 2003

É cosa nostra?
Pipocaram recentemente estudos que comprovam o bom desempenho das empresas familiares brasileiras. Superior mesmo às de capital aberto. E, bom ressaltar, desempenho sem relação com a onda de governança corporativa que assola as grandes corporações locais nos últimos anos. Por conta disso, sobraram críticos colocando em dúvida a retirada dos velhos e bons administradores que fizeram as grandes empresas nacionais em prol de gestores profissionais. Falácia. O que está em pauta mesmo é transparência, credibilidade e passagem de comando. Os investidores, grandes ou pequenos, querem mesmo é saber com detalhes o que estão aprontando os donos das empresas. Não tem a ver com boa gestão. Trata-se de informação sempre disponível. Afinal, se é pra colocar dinheiro na mão dos outros, esse investimento não pode ser gerenciado como o caixa da vendinha familiar. Mesmo que ela tenha um histórico de lucro.

terça-feira, novembro 18, 2003

Drible global
Um post cheio de perguntas. Mas tá valendo. Afinal, o que fazer com a tão propalada criatividade do brasileiro? Como usar o jeitinho para fazer crescer as corporações verde e amarelas? Como driblar no campo corporativo da globalização? Como canalizar a nossa força criativa para o sucesso empresarial? Onde entra a flexibilidade nesse jogo cheio de regras e métodos? Futebol, moda, música e propaganda nós fazemos bem, mas dá pra falar sério e brincar de ganhar dinheiro de forma a distribuir renda nesse País? Quem se candidata a unir o gene criativo e o caos da informação criado pela Internet? Dá pra patentear essa habilidade de descobrir caminhos novos no que parece ser imutável? Afirmação: esse papo tem tudo a ver com medir o valor dos ativos intangíveis. É nessa praia que o Brasil pode começar a falar grosso no jogo do Capital, assim mesmo, com C maiúsculo.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Selic na real
Essa história de juros altos é um dos maiores mal-entendidos da história econômica brasileira. As críticas são no estilo “por que não baixam logo de uma vez esses juros”. Ok, vamos falar mal do BC. Mas é preciso dar nome aos bois. A composição da taxa de juros funciona assim: o Copom NÃO define quanto vai pagar de juros. Como? Bom, o que ocorre naquelas quarta-feiras fatídicas é que a galera se reúne e verifica quanto o MERCADO está pagando. Aí faz uma média - com restrita liberdade de interpretação - e anuncia. O caso é que mesmo naquela tarde em que os 19% foram divulgados, houve quem pagasse 18,3% e outros que fecharam por 19,1%. Quem conhece do assunto diz que “o Meirelles articulou e conseguiu uma queda” (aquela de 2,5%, a maior do ano). É evidente que a taxa Selic influi na economia, mas para pedir uma queda drástica é preciso simplesmente mudar todo o sistema e passar a determinar os juros de maneira arbitrária. O mercado que se dane. E, só o Divino sabe, poderia até funcionar. Mas isso também é discussão (grande) para outro post.

domingo, novembro 16, 2003

Escola em rede
Aquela galera otimista que escreveu “The Long Boom” tocou em um ponto importante. Se daqui por diante o mundo será cada vez mais uma rede, então mudanças fundamentais devem acontecer no sistema educacional (segundo eles, essa mudança nas escolas sempre vem depois). A gurizada tem de começar a raciocinar diferente, aprender a trabalhar e se informar dentro dessa nova realidade. Pra não dizer que só dou pitaco sem ser construtivo, aí vai uma idéia interessante, que poderia partir de grandes redes de escolas, como o Objetivo. Uma dessas poderia fazer uma parceria com uma rede educacional argentina, outra africana, uma asiática e outra americana. Aí fala pra essa meninada: desenvolvam um trabalho pela Internet em conjunto com esses grupos. E vão competir sim, para tornar mais interessante, mas não com os caras de outro país, mas com outro grupo brasileiro (ou latino-americano, sei lá). Ah, vai ser em inglês, mas isso é papo pra outro post.

sábado, novembro 15, 2003

Só na fé
De novo, o governo fazendo tudo certinho, agora mais do mesmo. Superávit fiscal, diminuição da dívida pública atrelada ao dólar, todo mundo estimulando a exportação e por aí vai. Ao fim de um ano de posse do PT, ninguém discute que o Brasil pulou de cabeça no receituário “O mercado é tudo de bom!”. E, mais uma vez, os otimistas apostam que o País do Futuro está logo ali, na esquina. Claro, isso se não houver outro ataque terrorista ao império. Ou se uma bomba nuclear russa não explodir em algum lugar. Ou se não der “piti” no pcbão chinês. Ou se não pipocar outro Enron ou uma estagiária para o Bush. Ou se os palestinos não acabarem com os judeus ou vice-versa. Ou se... Diacho, será que pra dar certo a gente tem de rezar, fazer macumba, pé-de-pato, mangalô três vezes? Será que só com fé? O problema é que, nesse caso, ao contrário do que Gil dizia, a fé costuma falhar.

sexta-feira, novembro 14, 2003

O novo e o velho mundo
No começo, era o MBA. Ao sabor da moda do momento, ora a especialização, ora a visão global. Havia mais: ler bons livros, manter uma boa agenda de telefones, ter boa oratória. Quesitos como esses fizeram o profissional desejado. Passado. Fazer essas coisas ainda contam bons pontinhos, mas a sociedade do conhecimento pede mais. É preciso se plugar. Ah, isso não tem nada a ver com ser internauta. Nada a ver com ter um e-mail. Nada a ver com pagar as contas pelo site do banco. É preciso raciocinar em rede. Vislumbrar projetos em rede. Entender o mundo como uma grande teia de pessoas, países, empresas, todos intereligados, interdependentes. Destruir os velhos processos e criar novos do zero, usando toda a tecnologia disponível, de maneiras que ninguém ainda fez. Parece discurso marketeiro de algum guru da nova economia? Lembra techfetichismo de segunda? Não, é a primeira página da nova cartilha. Se não entendeu nada, ligue rápido para um plano de previdência.

quinta-feira, novembro 13, 2003

Procuram-se mascates internacionais
Ofereceram o cafézinho pela terceira vez. Mas ele nunca foi servido. Na espera, um grupo de empresários interessados em abrir uma filial na Inglaterra. Eles foram recebidos com descaso e atendidos de pé. A cena aconteceu na embaixada brasileira em Londres no ano passado. Os interlocutores também não demonstraram experiência comercial. O incidente não é exceção, mas a regra. E mostra o quanto está longe das representações brasileiras no exterior se transformarem em pontas-de-lança no movimento de impulso à exportação. A esperança agora reside no fato de que o Itamaraty afirma ter consciência de que isso precisa mudar. E no nosso ministro mais diligente, Furlan, que tem sido um verdadeiro caixeiro-viajante, propagandeando produtos e serviços tupiniquins em suas incursões pelo mundo. Será que agora vai?

quarta-feira, novembro 12, 2003

Baixar a cabeça para dominar

Incrível como o pêndulo entre o oriente e o ocidente não pára. Os asiáticos caminham para repetir na sociedade do conhecimento o que fizeram no mundo da manufatura. Video-cassete, técnicas de gestão de Deming e chips eles olharam, copiaram e melhoraram. Agora eles mandam nessas praias.
Mas vem mais por aí. Parece que a receita é mais ou menos assim: os ocidentais (principalmente americanos) radicalizam, impõem, criam, quebram e arrebentam. São indisciplinados, mandões e rebeldes e é da cabeça deles as idéias que mudam o mundo. E isso vem desde que os europeus desbravaram os mares. É daí que vem a gênese criativa da civilização que conhecemos, ninguém pode negar. Aí os orientais olham e, sempre submissos, aprendem. Com determinação e amor pelo conhecimento, entendem e aperfeiçoam. E se tornam os melhores. Espere eles fazerem isso na Nova Economia.