terça-feira, outubro 04, 2011

Médico, ser superior

O doutor chega 45 minutos atrasado e se esconde no banheiro. Depois, entra na sua sala santa, seguido pela secretária prestativa e os dois confabulam durante alguns segundos. Ela sai, ele coloca o jaleco, confere alguns papéis e vem chamar o primeiro cliente: EU.
Enquanto tudo isso acontecia eu fiquei pensando se devia falar alguma coisa ou não. Ser chato ou besta? Mané ou mala?
Tentei olhar de maneira enigmática para ele, nem sorrindo, nem bravo. Quem sabe funciona?
Nada. Niente. Nem um "foi mal aê manu".
A consulta transcorreu normalmente. No final, ele preencheu meu pedido de ressarcimento, que eu cuidadosamente coloquei dentro do meu livro de 700 páginas (podia ter outros usos).
Já de pé, perguntei casualmente: Nesse período da noite o atraso é normal?
Ele respondeu: "É, o trânsito..."
Um pausa breve.
"...sempre tem quando eu venho do hospital."
Outra pausa, eu olhando para ele com a mesma cara.
"Sempre acontece se eu tenho de atender um paciente."
É. Pois é.
Tudo que eu fiz então foi dizer a palavra "certo" lentamente.
Apertamos as mãos, eu disse tchau, me virei e fui embora.
Tenho certeza que agora eu sou praticamente um monge.